terça-feira, 21 de outubro de 2014

Lira do amor romântico Ou a eterna repetição

      Atirei um limão n’água
      e fiquei vendo na margem.
      Os peixinhos responderam:
      Quem tem amor tem coragem.

      Atirei um limão n’água
      e caiu enviesado.
      Ouvi um peixe dizer:
      Melhor é o beijo roubado.

      Atirei um limão n’água,
      como faço todo ano.
      Senti que os peixes diziam:
      Todo amor vive de engano.

      Atirei um limão n’água,
      como um vidro de perfume.
      Em coro os peixes disseram:
      Joga fora teu ciúme.

      Atirei um limão n’água
      mas perdi a direção.
      Os peixes, rindo, notaram:
      Quanto dói uma paixão!

      Atirei um limão n’água,
      ele afundou um barquinho.
      Não se espantaram os peixes:
      faltava-me o teu carinho.

      Atirei um limão n’água,
      o rio logo amargou.
      Os peixinhos repetiram:
      É dor de quem muito amou.

      Atirei um limão n’água,
      o rio ficou vermelho
      e cada peixinho viu
      meu coração num espelho.

      Atirei um limão n’água
      mas depois me arrependi.
      Cada peixinho assustado
      me lembra o que já sofri.

      Atirei um limão n’água,
      antes não tivesse feito.
      Os peixinhos me acusaram
      de amar com falta de jeito.

      Atirei um limão n’água,
      fez-se logo um burburinho.
      Nenhum peixe me avisou
      da pedra no meu caminho.

      Atirei um limão n’água,
      de tão baixo ele boiou.
      Comenta o peixe mais velho
      Infeliz quem não amou.

      Atirei um limão n’água,
      antes atirasse a vida.
      Iria viver com os peixes
      a minh’alma dolorida.

      Atirei um limão n’água,
      pedindo à água que o arraste.
      Até os peixes choraram
      porque tu me abandonaste.

      Atirei um limão n’água.
      Foi tamanho o rebuliço
      que os peixinhos protestaram:
      Se é amor, deixa disso.

      Atirei um limão n’água,
      não fez o menor ruído.
      Se os peixes nada disseram,
      tu me terás esquecido?

      Atirei um limão n’água,
      caiu certeiro: zás-trás.
      Bem me avisou um peixinho:
      Fui passado pra trás.

      Atirei um limão n’água,
      de clara ficou escura.
      Até os peixes já sabem:
      você não ama: tortura.

      Atirei um limão n’água
      e caí n’água também,
      pois os peixes me avisaram,
      que lá estava meu bem.

      Atirei um limão n’água,
      foi levado na corrente.
      Senti que os peixes diziam:
      Hás de amar eternamente

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