Retirado do Almanaque Saraiva, Ano 9, nº91.
Áustria, 23 de dezembro de 1818
Quando soube que ratos haviam destruído o órgão da paróquia de São
Nicolau, em Obendorf, na Áustria, o padre Joseph Mohr entrou em
desespero. “Como celebrar a tradicional Missa do Galo sem música?”,
indagou-se o sacerdote. Para não decepcionar os fiéis, ele pediu ao
amigo Franz Gruber, organista de Arnsdorf, um povoado vizinho, que
compusesse uma melodia para um texto que ele acabara de escrever,
“Stille Nacht, Heilige Nacht”, sobre como teria sido o nascimento de
Jesus na humilde estrebaria de Belém.
Acompanhados apenas por um violão, Mohr e Gruber emocionaram a todos
ao cantar pela primeira vez aquela que viria a ser conhecida como a mais
popular cantiga natalina de todos os tempos – batizada, no Brasil, como
“Noite Feliz”.
Bélgica, 24 de dezembro de 1914
Quase um século depois, a canção escrita por Mohr tornou-se
responsável por um inusitado cessar-fogo durante a Primeira Guerra
Mundial. Na véspera do Natal daquele ano, soldados alemães
entrincheirados começaram a entoar os versos de “Stille Nacht, Heilige
Nacht”. Embora não compreendessem a letra, os combatentes britânicos
reconheceram a melodia de “Silent Night” e engrossaram o coro. Quando a
música chegou ao fim, os aliados gritaram: “Muito bom, Fritz!”.
Após alguns minutos de silêncio, os alemães retribuíram a gentileza:
“Feliz Natal, ingleses!”. Em seguida, um deles propôs o que parecia
impossível: “Nós não atiramos; vocês também não”. E o milagre aconteceu.
Durante seis dias, ingleses e alemães trocaram presentes e celebraram o
Natal.